O que é rede? → São Sebastião discute o tema em sua reunião mensal

Sucesso. 
Dinâmica inicial da reunião, conduzida por Paulo Macedo


Paulo Macedo, orientando a dinâmica de apresentação
Nenhuma outra palavra tem o poder de definir mais precisamente a reunião da Rede São Sebastião realizada hoje, 13/08/14. Preparados pelas atividades propostas do parceiro Paulo Macedo (psicólogo e terapeuta comunitário, servidor do TJDFT),  mais de 30 participantes se conheceram, estabeleceram um primeiro contato ou estreitaram seus vínculos e afinidades logo no início dos trabalhos. Em seguida, imbuídos por uma sensação gostosa de familiaridade, se dedicaram a ouvir as reflexões propostas pelo nosso convidado Everardo Lopes, da Casa das Redes,  e com ele acompanhar as informações e questionamentos que nos proporcionavam uma perspectiva bastante abrangente sobre o que vem a ser rede social e quais são as perguntas que devemos nos fazer permanentemente para nos certificarmos de que o caminho que percorremos está nos conduzindo para a horizontalidade essencial à sua dinâmica.


Irreverente, articulado, seguro, experiente e dotado de  grande habilidade para contar histórias e dominar a atenção da audiência, Everardo destacou, primeiramente, que as redes sociais são um fenômeno do DF e que se caracterizam, prioritariamente, pela ausência de hierarquia entre os participantes e pela mobilidade dos seus integrantes, que vem e vão, natural e sazonalmente — mas cuja falta não pode impactar a própria essência da rede ou a sua razão de existir. Ficou claro para todos que as redes não podem estar amparadas numa única pessoa — o trabalho precisa continuar, seja com 2 ou com 30 participantes nas reuniões mensais.

Outro destaque importante foi abordar que a motivação de  uma rede não se ampara, necessariamente, nos resultados, mas no processo, no caminho que se percorre. Estamos  convencidos  de  que  todos  se surpreenderam quando Everardo enfatizou, mais de uma vez, que se há algum tipo de organização, então não estamos falando de rede. 
Como assim? — era a pergunta que se via nas expressões de praticamente todos os presentes. — Então  estamos caminhando  em direção errada?  Então nossa proposta de discutir metodologia e história da nossa rede é equivocada? Que caminhos vamos trilhar a partir de agora? E como vamos alcançar nossos objetivos? Na verdade, quais são nossos objetivos, como rede?

Essas e outras perguntas permearam a apresentação de Everardo, que foi incrivelmente generoso conosco ao dividir sua experiência de anos em trabalhos com redes sociais. Contou histórias, apresentou exemplos e estabeleceu parâmetros que serão de extrema utilidade para nortear os passos da Rede São Sebastião, no sentido de promover o seu fortalecimento e, naturalmente, o alcance do seu objetivo maior, que é a promoção do bem-estar e de melhores condições de vida, em todos os aspectos, à comunidade.
De pé, Everardo Lopes apresenta muitas reflexões aos participantes, que certamente necessitarão 
de tempo para processar todo o conteúdo desse encontro.
A importância do vínculo afetivo entre as pessoas da rede foi uma abordagem recorrente nas palavras de Everardo. Também a afetividade foi utilizada para traduzir as necessidades básicas das pessoas — esse olhar afetivo é que promove as mudanças essenciais, mudanças que parecem pequenas, que são pequenas, mas são as sementes das grandes mudanças que almejamos promover. Everardo falou também sobre a diferença entre política pública e política de Estado. E mencionou, mais de uma vez, a importância de se olhar as pessoas apenas como "gente": uma criança que sofreu abuso, uma mulher que sofreu violência, um jovem inserido na criminalidade — o foco precisa ser a pessoa, não o problema. Ao focar o problema, nos distanciamos da humanidade essencial no tratamento dessas questões. É essa humanização a tônica dos trabalhos que precisamos desenvolver.

Everardo citou o exemplo do copinho de chá, servido às mães de adolescentes no antigo CAJE: a espera desumana de horas por atendimento se esvanecia no recebimento deste gesto humano — um copinho de chá, que não abrevia o tempo, que não resolve o problema, mas que representa um olhar amoroso, uma deferência que a recoloca no mundo, ocupando um novo lugar. A história reforça o teor essencial da apresentação: a importância de um gesto, um único gesto.
No aspecto da organização das redes, Everardo afirmou que "definir a rede atrapalha o processo de criatividade"
Toda a ênfase para a necessidade de pensar junto, construir junto, porque no fim todas as ideias são em essência similares, e por isso é importante buscar perguntas e respostas que não foquem nos obstáculos, mas nas possibilidades. Ficou clara uma preocupação do palestrante com o eventual "engessamento" das ideias a partir de uma organização muito formal ou hierárquica. Na verdade, Everardo procurou jogar aos participantes um conjunto de reflexões que nem sempre foram respondidas e, quando o foram, não foram apresentadas como verdades absolutas, ou seja, cada rede vai se construir conforme as suas necessidades, o importante é não partir de modelos prontos, de formatos, bem ao contrário: uma rede é, na verdade, um não-formato, um não-modelo, é antes uma construção coletiva onde as virtudes se somam para construir transformação.
Também foi abordado o aspecto de viés político dentro das redes sociais, ideia que foi veementemente descartada por Everardo — e por uma razão simples, segundo explicou: as redes são horizontais; a política é sempre vertical. É inviável, portanto, a associação das duas, eis que as premissas são antagônicas. 


Os parceiros riem com Everardo, que compartilha sua experiência em redes com exemplos de histórias que viveu.

O lanche foi realizado com a colaboração de todos os participantes.
Após a apresentação, que durou cerca de 40 minutos, os participantes se aprofundaram em alguns questionamentos e suas perguntas foram respondidas por  Everardo durante quase toda a hora seguinte. Tudo foi gravado e o conteúdo integral da apresentação e das perguntas e respostas será publicado oportunamente e divulgado à rede por e-mail.

Não se pode esquecer de destacar as ponderações de Everardo sobre as constantes mudanças de pessoas nas administrações regionais, pessoas que ocupam cargos na ponta, direto com a comunidade, e que são substituídas se houver troca do administrador. Ressaltou a importância da atenção do administrador regional para o trabalho da rede, em especial a sua participação nas reuniões, que lhe pouparia o trabalho de alguns assessores. Everardo também mencionou modelo aplicado em outra rede (talvez Ceilândia, não estou certa) para escolha dos administradores, com sugestão de lista tríplice, tirada da rede e apresentada ao responsável pela nomeação. Este modelo, se adotado, significaria um ganho expressivo para a comunidade.

Por fim, um dos aspectos mais produtivos da reunião foi diferenciar, para os integrantes, os objetivos de uma rede social, comparativamente ao trabalho realizado pelo Fórum de Entidades Sociais, uma organização forte e atuante na cidade de São Sebastião. De algum modo, como muitas das entidades que compõe a rede social também são participantes de fórum, sempre houve certa confusão quanto às atribuições de cada um. Com a apresentação de Everardo Lopes, ficou bem mais simples entender que são duas áreas distintas de atuação, com objetivos específicos, ainda que o objetivo maior, em ambos os casos, seja a consecução do bem comum.


OBS:
Serão bem-vindos os comentários que acrescentem detalhes e enriqueçam o conteúdo de um evento tão memorável.

PARTICIPARAM DA REUNIÃO

RAQUEL MAGALHÃES - INSTITUTO ECÓANAMA  
JOYCE MURIEL COSTA - INSTITUTO ECÓANAMA
IRMÃ ASSUNÇÃO - RAIOS DE LUZ
JAILDA ANDRADE DE OLIVEIRA - RAIOS DE LUZ
SHIRLEY CARVALHO - SECRIANÇA 
LEANDRO NAVARRO - SECRIANÇA 
MARIA SELMA FREITAS - PROMOVIDA 
CAIO VALENTE - CONSELHO DH DF 
ISAAC MENDES PEREIRA-  CONS. TUTELAR JD. BOTÂNICO - ASSOCIAÇÃO CULTURAL SUPERNOVA - FÓRUM DE ENTIDADES  
ROBSON CALDAS DE OLIVEIRA - IFB INSTITUTO FEDERAL DE BRASÍLIA
JOÃO SANTANA - COOPERATIVA ECOLIMPO
ROZELI RAMOS - UNIDADE DE INTERNAÇÃO DE SÃO SEBASTIÃO
PRISCILA P - SERAV/TJDFT
PAULO R. F. MACEDO - SERUQ/TJDFT - COORDENADOR DA REUNIÃO
MICHELINE COSTA - PROJETO VIDA PE. GAILHAC
RUTH MATOS - FACULDADE ANHANGUERA
ELIANA ELSON - ASP AÇÃO SOCIAL PLANALTO
LÍVIA MOTA - SES/DF  PRISIONAL PDF 1
HIDERLENE MONTENEGRO -  SES/DF  PRISIONAL PDF 1
ARTHUR CORRÊA - LUDOCRIARTE
ELIZABETH NEVES - LUDOCRIARTE
WELLINGTON COSTA - SECRIANÇA/UIPSS
TATIANA MARANGON - SECRIANÇA/UIPSS
JURACY BASTOS - ADMNISTRAÇÃO REGIONAL DE SÃO SEBASTIÃO
EVERARDO LOPES - ABRIGOS DA PAZ/CASA DAS REDES
SUELI BRANDÃO BORGES - AGEFIS
PAULO HENRIQUE FARIAS - FÓRUM DCA SÃO SEBASTIÃO
VILSON MESQUITA - CONSELHO DE SAÚDE DE SÃO SEBASTIÃO
AUGUSTA FARIA - CONSELHO DE SAÚDE DE SÃO SEBASTIÃO
MAIARA W. - SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
NAZARENO VASCONCELOS - SÃO SEBASTIÃO ESPORTE CLUBE
ISABELA CORDEIRO LEDA - SEE/ESCOLA CAIC UNESCO
LUCILEIDE LIMA DOS SANTOS - ASSISTENTE SOCIAL
ANA NOGUEIRA - SETOR DE MEDIDAS ALTERNATIVAS/PJSS - ORGANIZADORA DA REUNIÃO
HÉRCULES SANTOS - SETOR DE MEDIDAS ALTERNATIVAS/PJSS


AUSÊNCIAS SENTIDAS: 
Conselho Tutelar  - CRAS - CRE - Centro de Saúde - UPA - Instituto Acesso - Instituto Cultural Congo Nya - Pra Lapidar - Centro Olímpico - 21º BPM → será muito bom poder contar com vocês em nossa próxima reunião!

Para participar do grupo de e-mails da Rede São Sebastião e receber os convites e divulgações de trabalhos, envie um e-mail para borges.sueli@gmail.com e solicite a sua inscrição.





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